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Literatura Inglesa: seus marcos e frutos


A Literatura Inglesa teve sua trajetória iniciada, primeiramente, pela influência da cultura dos povos celtas, sendo esta a idolatria pela Natureza, porque acreditavam que ela obtinha o equilíbrio do mundo. De forma geral, na cultura celta, existiu a presença do misticismo e do sobrenatural como sua religiosidade, sem contar que para eles, a mulher (imagem feminina) tinha a mesma valoração que os homens na sociedade. Algo que já é possível de correlacionar com a realidade existente da Inglaterra, por exemplo, onde houve/há presenças de líderes femininas – como: Rainha Maria I, Rainha Elizabeth I, Rainha Vitória I e, atualmente, Rainha Elizabeth II. É possível de um modo breve, perceber que as crenças dos celtas permanecem ainda na cultura britânica, mais diretamente visto em sua literatura, não só pela figura da mulher (vista como heroína), mas também pela natureza representando a sabedoria, o misticismo e o sobrenatural.


Todavia, com a chegada dos romanos com o propósito de invadir as terras inglesas – em 55 e 54 a.C., mais posteriormente com a ilha britânica sendo anexada ao Império Romano em 44 d.C. –, a cultura celta não foi mais propagada, na verdade, ela foi quase que totalmente extinta e em seu lugar, pelos quatro séculos seguintes, a cultura e religião romanas foram impostas pela população. Ou seja, a partir da invasão romana, veio o Cristianismo, o Latim e a introdução de gêneros literários variados (Tragédia, Épico, Sátira, Lírico, etc) que, juntos, contribuíram mais ainda para a evolução da literatura em si e, com o tempo, a construção da língua inglesa.

Em 410 d.C., por causa dos problemas que o Império enfrentava em Roma, as legiões abandonaram a Bretanha, deixando os celtas-bretões frágeis a possíveis invasões das tribos do Norte, e em busca de uma tentativa por força militar, por proteção, em 419 d.C., eles apelam para as tribos germânicas



(angles, saxons e jutes) por tal ajuda. Vê-se no mapa ao lado como era a proximidade do povo celta, em cinza, com os germânicos, divididos entre angles (vermelho), saxons (marrom) e jutes (amarelo). Entretanto, o pedido de socorro é visto mais como uma oportunidade de invasão a um povo desprotegido que possuía boas terras também, e assim, os “bárbaros” – como eram considerados pelos romanos – se estabeleceram nas terras mais férteis do sudeste da Bretanha, destruiu as vilas e a própria população local. Tamanho estrago que foi essa infeliz “segunda” invasão de outro povo para os já influenciados celtas-bretões por Roma, que pouco sobreviveu, por exemplo, da língua celta no inglês. O que origina, de fato, a língua inglesa são os dialetos germânicos, e sua história pode ser dividida em três períodos: Old English (começa na segunda metade do século V, quando as invasões germânicas ocorreram), Middle English e Modern English.

Por mais de seis séculos os germânicos governaram a Bretanha, e durante tanto tempo, sua diferencial cultura influenciou na formação da literatura e da cultura dos habitantes celtas-bretões, e o principal marco da literatura anglo-saxã começa com a obra “Beowulf”. É um poema épico, escrito no fim do

século IX, com 3.128 versos e escrito no Old English, ou inglês arcaico, e infelizmente, seu autor continua sendo anônimo. A história por trás desse texto fala sobre a aventura da personagem Beowulf, guerreiro que viaja para – atualmente conhecida como – Dinamarca, para enfrentar um monstro chamado






Grendel, que estava matando os habitantes do reino Hrothgar, que já haviam feito de tudo para expulsá-lo. Beowulf com bravura vai atrás de Grendel, em busca de um confronto com a fera e mais adiante, com sua própria morte.

De acordo com estudiosos do texto, este poema descreve com nitidez os antigos habitantes guerreiros da Escandinávia e como eles viviam, já que é conhecido que, se fosse necessário, os escandinavos dariam suas vidas pelo o que creram ser o certo. Tal conhecimento provém da Teoria da Coragem do Norte.


Examinando de forma simbólica, o texto possui a presença do Cristianismo, o que é engraçado já que os povos anglo-saxões são considerados pagãos. O que aconteceu, na verdade, foi que a Literatura anglo-saxã em si foi registrada por monges da Igreja Católica. E na tentativa de acrescentar a imagem do Cristianismo, foram incluídos termos e ideias da religião. Algo que de longe observando é, no mínimo,


desrespeitoso para com a obra, pois, ao adicionar partes inexistentes da cultura daquele povo – sendo o texto um compilado oral que surgiu entre 700 d.C. e 750 d.C. – retira o que poderia chamar de pureza textual, não dá mais, então, saber o que é original, o que o autor quis de fato dizer ou transmitir ao leitor e por causa disso, desvaloriza plenamente o texto – não insinuando que o texto não deve ser lido, mas, se fosse possível comparar com o texto antes de ser registrado pelos monges, encontrar-se-ia as gritantes diferenças e o que pertence à cultura pré-viking/pré-cristã e o que pertence ao ideal da Igreja, e conforme a preferência do leitor em questão, saberia dizer o que é melhor, a obra registrada pelos monges ou a obra “crua”, de fato escrita por quem tenha sido seu escritor. Continuando sobre a literatura anglo-saxã, a qual se estendeu de 450 d.C. até 1066, outros elementos vindos dela são as líricas e as charadas. As líricas espelham a expressão serena da vida, com temas relacionados à sua brevidade; com sua cultura pela exposição oral da escrita, manifesta-se a presença daqueles que seriam os responsáveis pela divulgação dos poemas, épicos e líricos, conhecidos também como scopas. Por causa da tradição oral, também foram os monges que, mais tarde, registrariam e preservariam tais textos


Em seguida, vem o Período Médio (1066 a 1485), a qual origina-se com a invasão e conquista do duque Guilherme II da Normandia – norte da França –, em 1066, pela Inglaterra. Esta fase traz bastante influência da cultura francesa para literatura (nas formas e nos temas), língua e estilo de vida ingleses da época.

A literatura da Idade Média, assim, prospera com os poemas e os romances de cavalaria, sendo os mais populares aqueles que contavam sobre a história do Rei Arthur. Muito se debate sobre a veracidade dessas histórias, já que com o passar do tempo, lendas, mitos e fatos históricos foram se misturando, e um dos conhecidos por iniciar a possível ficção sobre Arthur foi Geoffrey Monmouth. Ele, clérigo e tendo à sua disposição diversas fontes para criar a história, e traçand o a existência desse Rei juntamente com todo seu universo de aventuras, Geoffrey fez da imagem de Arthur, antes sendo apenas um guerreiro bretão, evoluir para um príncipe cristão, justo, respeitável e invencível. Contudo, quem foi o primeiro a organizar todas as versões de forma coerente e assim, formalizar todo o universo que vinha por trás da imagem do Rei Arthur, foi Thomas Malory. Ele escreveu a obra “Morte D’Arthur”, o principal romance de cavalaria da literatura inglesa que se tornou base para todos que se sucederam a escrever sobre um dos mais famosos Reis que a Inglaterra já conheceu... Ou, ao menos, ouviu falar.

No período medieval, então, a literatura inglesa obtém duas linhas: a popular que é representada pelas baladas, líricas e romances de cavalaria, e, a religiosa encontrada nas líricas e no drama medieval. As baladas eram recitadas ou cantadas, especificamente, só depois foram transcritas em textos; elas também são conhecidas por se dividirem em incidentes históricos e narrativas folclóricas. Já as líricas populares eram sobre a realidade vivida pelo povo enquanto as líricas religiosas variavam de temas, ora sobre o poder da fé ora sobre o amor de Cristo pela humanidade. Enquanto isso, o drama medieval foi criado graças as práticas litúrgicas da Igreja Católica, sendo dividida por peças que: contavam histórias

sobre os personagens do Evangelho e os milagres dos santos (conhecidas como Milagre), que contavam os incidentes da Bíblia (conhecidas como Mistério), que contavam sobre a luta do bem e mal – a batalha do homem em tentar salvar sua alma – (conhecidas como Moralidade), e as conhecidas como Interlúdio.

A presença da religião sempre esteve muito presente, pois obtinha uma grande influência na vida em sociedade, a Igreja foi – de certa forma – um meio que continuou instigando a participação do exercício da dramaturgia, da cultura literária (mesmo que os temas fossem, a maioria, apenas relacionados à Bíblia). A obra que mais definiu o período da Idade Média para literatura foi “The Canterbury Tales” de Geoffrey Chaucer, se destacando pela ótima descrição que faz à sociedade medieval e os tipos de pessoas que existiam nela, ele mostra a estrutura social durante o Feudalismo e utiliza-se da Monarquia e Clero para produzir suas denúncias sociais e comédias, também. Tornando Geoffrey Chaucer o primeiro escritor realista da Literatura Inglesa.


O período do Renascimento vem juntamente do reinado da Rainha Elizabeth I, em 1558, época em que a Inglaterra encontra seu ápice econômico e torna-se a maior potência política, comercial e cultural da Europa. Foi esta a fase conhecida como o florescimento da literatura e poesia do país, onde o teatro elisabetano mais se destacou. O drama renascentista atingiu seu auge com William Shakespeare e suas brilhantes peças.

William Shakespeare (1565-1616), poeta, dramaturgo e ator. Suas 38 peças, 154 sonetos e diversos outros poemas são a principal razão pela qual Shakespeare tem a reputação de brilhante poeta renascentista. Em 1592, estreou no Rose Theatre de Londres com a peça “Harry the Sixth”, e em 1593 escreve “Venus and Adonis”, acredita-se que nesse tempo ele já era considerado um dramaturgo de sucesso. Seu prestígio aumentou ainda mais no ano seguinte, quando começou para a companhia de teatro The Lord Chamberlain’s Men. As obras de William podem ser divididas em três partes: a primeira, de 1590 até 1602, ele escreveu comédias alegres, dramas históricos e tragédias, no estilo renascentista; a segunda, ocorre até 1610, quando ele chega no seu auge, escrevendo tragédias grandiosas e comédias amargas; a terceira, que perdura até sua morte, marca-se pelas peças com finais conciliatórios.


Shakespeare continua sendo uma fonte de inspiração atemporal através de suas peças e seus poemas, graças ao seu talento em conseguir escrever de forma tão precisa as complexidades dos sentimentos humanos, utilizando-se sempre de sua habilidade com a linguagem poética, é praticamente impossível de não admirar suas obras, não importa se há algum gênero que seja menos aproveitado, das as formas exploradas e interpretadas por ele, tudo conquista o leitor (ou mesmo a plateia, se pensa naquele tempo, principalmente).


Das diversas facetas que ele escreveu, uma das quais mais me atrai a atenção pela forma e pela mensagem, que de um modo conciso, demonstra a visão e o brilhantismo de Shakespeare – com relação às interações humanas juntamente por seus interesses nem sempre nobres – é o Soneto 116:

Let me not to the marriage of true minds Admit impediments. Love is not love Which alters when it alteration finds, Or bends with the remover to remove: O, no! it is an ever-fixed mark, That looks on tempests and is never shaken; It is the star to every wandering bark, Whose worth's unknown, although his height be taken. Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks Within his bending sickle's compass come; Love alters not with his brief hours and weeks, But bears it out even to the edge of doom. If this be error and upon me proved, I never writ, nor no man ever loved.

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De almas sinceras a união sincera

Nada há que impeça: amor não é amor

Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,

Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora

Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

(tradução: http://blogdodanielphilos.blogspot.com.br/2014/01/shakespeare-soneto-116-traducoes.html?m=1- Valeria)

Neste soneto é possível ver a forma como ele discute sobre a existência ou não do amor eterno, de um casamento de almas verdadeiro, que para muitos é inexistente, mas, que para ele é sim totalmente possível. Só que ele distingue o amor verdadeiro daquele sentimento chamado de “amor” que a qualquer problema se desfaz, e durante boa parte do soneto, explica como é, em suas metáforas, a sensação do amor eterno – o que diga-se de passagem, algo muito característico dele mesmo, já que Shakespeare sempre teve a habilidade de se aproveitar dos recursos linguísticos para deixar seus textos mais ricos de detalhes e significados. Ao fim, vemos que ele provoca a afirmação daqueles que desvalorização o amor, no “Love alters not with his brief hours and weeks,/But bears it out even to the edge of doom”, tal sentimento não é algo que se cria em pouco tempo, mas sim, aquele que dura, que se desenrola até o último dia da existência da pessoa amada, isto é, há um jogo entre a ideia do breve e do eterno juntamente do que é o amor (talvez algo breve para aqueles que não acreditam, e eterno para aqueles que acreditam em sua existência eterna). E a última cartada está presente nos dois últimos versos, “If this be error and upon me proved/I never writ, nor no mane ver loved. ”, no qual Shakespeare transforma seu ponto de vista em algo irrelevante, já que, se de fato alguém provou que ele estava totalmente errado sobre o amor, ele também não deve nunca ter escrito nada e nenhum homem, então, jamais amou.

Muito ainda se desenvolveu com o tempo na Literatura Inglesa, com os períodos

  • Literatura Jacobiana (1567-1625)

  • Era Cromwell (meados do século XVII)

  • Literatura na Restauração (1660 – 1689)

  • Literatura Augustina (1689 – 1750)

  • Romantismo (entre 1785 a 1830)

  • Literatura Vitoriana (1837 – 1901)

  • Literatura Modernista

  • Literatura Pós-Modernista

É possível, de modo breve, então perceber que a Literatura Inglesa nasceu graças aos “acasos” históricos, as diversas inclusões de culturas que, com o tempo, foram compondo e modelando a imagem literária da cultura inglesa. É bastante impressionante ao compreender, com esse pedaço de história, a inúmera quantidade de autores que criaram tantas obras renomadas e conhecidas mundialmente, tão brilhantes tantos escritores, poetas, dramaturgos, que compõem a vasta trajetória da literatura inglesa... Que é impossível não conhecer um determinado período de tudo isso, já que, cada autor à sua maneira, sempre transmitiu sua própria realidade e os aspectos históricos e sociais de seu tempo, que não tem como não se identificar com algo. A história sempre atinge algum ponto de nós mesmos, nos marca e transmitimos isso adiante em nossas vidas (tanto na vida pessoal quanto na profissional), sem ao menos perceber o impacto relevante que existe entre a influência que faz – da história de certa pessoa – no simples leitor, que está ali, segurando a melhor fonte de conhecimento conhecida até hoje.


BIBLIOGRAFIA

FEITOSA, Micheli Marques. O Negro na Literatura Inglesa: A Identidade de “Otelo” representada por Shakespeare. 2012. 51 f. Monografia (Graduação em Licenciatura em Letras) - Faculdade Sete de Setembro, Bahia.


SIQUEIRA, Kárpio Márcio de. Literatura Inglesa: Da Origem ao Período Pré-renascentista, um Panorama das Identidades Simbólicas e Ideológicas. Revista Científica da FASETE, Bahia, n.1, p. 54-60, agosto/2007.


http://letrasgabi.blogspot.com.br/2012/05/historia-da-literatura-inglesa.html


http://www.sk.com.br/sk-enhis.html


http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/edicoes/4/artigo70328-1.asp


http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RolBrita.html


http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/verdadeiro-rei-artur-433395.shtml


https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_inglesa#Literatura_elisabetana


http://educacao.uol.com.br/biografias/william-shakespeare.jhtm


http://www.shakespeares-sonnets.com/sonnet/116


https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_inglesa#Literatura_elisabetana


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