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Supersymmetry

  • Letícia Brito
  • 13 de mai. de 2015
  • 6 min de leitura

Os físicos teóricos consideram a supersimetria uma idéia tão bela que mesmo na ausência de qualquer indício empírico direto da sua verdade, e somente um indireto de que talvez seja verdade, quase todas as propostas atuais de teorias fundamentais incorporam a supersimetria. Em primeiro lugar, a supersimetria, do jeito que o físico a entende, combina de uma maneira não trivial a simetria do espaço-tempo e uma relação entre os dois tipos fundamentais de campos físicos. Há muita especificidade nesta mistura, e isto oculta as propriedades essenciais das estruturas matemáticas envolvidas, apesar destas existirem independentemente de qualquer relação com o espaço-tempo. 1


A supersimetria, em descrição supracitada, é um conceito físico que, em termos gerais, relaciona dois campos diferentes que, de alguma forma que nem mesmo a Física pode de certa forma explicar, relacionam-se no espaço-tempo.


Além da definição da Filosofia da simetria, encontrada em Aristóteles, quando este vê na simetria elementos do belo, tratemos aqui da supersimetria, que não acha beleza em formas iguais, mas em diferentes, que por algum motivo estão em lugares e momentos distintos mas ainda assim colidem, gerando uma relação única e, logo, bela.


Nesta esteira, encontra-se o filme Ela (Her, Spike Jonze, 2013).


Sinopse

Los Angeles, dias de hoje – um pouco mais modernos. Encontramos Theodore (Joaquin Phoenix), um homem que vive uma vida cosmopolita: trabalha numa empresa que redige cartões personalizados, anda de metrô e mora num apartamento na cidade. Tem um casal de vizinhos amigos de longa data, cuja esposa Amy (Amy Adams) é sua grande amiga. Theodore, entretanto, desde já, aparece como um homem, além de sensível, sozinho. Descobre-se, então, que ele na verdade passou por recente separação de seu amor de muitos anos, Katherine (Rooney Mara) e que na verdade ainda não aceitou o divórcio em via judicial, ficando preso a memórias e frases que nunca disse ou discussões que nunca existiram. Katherine, notem aqui, personifica-se apenas em cenas de flashback – no tempo presente do filme, ela aparecerá apenas uma vez, apesar de sua presença ser constante.

Finalmente, observa-se que Theodore sofre as dores de um mundo tecnológico e cosmopolita, onde as pessoas não interagem de forma fisica com as outras e os relacionamentos afetivos resumem-se em mensagens, cartões digitais escritos por terceiros ou até salas de bate papo no meio da madrugada. Neste momento, vemos o personagem principal como vítima da tecnologia, buscando nela uma forma, desde já, de substituir as interações humanas – como argumento, contrasta-se a vida com e sem Katherine: a primeira, sem qualquer presença de tecnologia, com luzes em tons de amarelo, representando o Sol e o contato com a natureza e a segunda, em tons de azul e cinza e repleta de modernidade.

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É aí então que a dinâmica do filme gira e a solidão de Theodore ganha novo significado: eis aqui, a supersimetria. Produto recém-lançado no mercado, Theodore compra o OS (sistema operacional) – um dispositivo que é uma espécie de organizadora de tarefas com inteligência artificial, similar a um smartphone. De pronto, ele define a voz do aparelho feminina e após breve questionário, Samantha (Scarlett Johansson, por voz) aparece. Note aqui que os OS têm um diferencial: estes evoluem constantemente, como um ser humano. Logo, Samantha não apenas se dá um próprio nome como, aos poucos, desenvolve uma rápida conexão com Theodore, tornando-se inseparáveis.


Samantha, ao decorrer da película, descobre o mundo pelos olhos de Theodore, que, considerando-a sua companheira, criando um verdadeiro vínculo afetivo, com emoções e verdadeira interação que apenas não é física – afinal, ela é um sistema operacional. Veja: eles estão juntos, trocam experiências e vivem uma vida de casal. Não estão, entretanto, no mesmo lugar. Vivem, em harmonia, porém em ambientes opostos – supersimetria.


O que acontece é que Samantha supera Theodore, ultrapassando os limites da matéria, viajando no tempo e espaço, conhecendo livros e autores e realizando tarefas que à humanos, limitados por seus corpos, não lhe são possíveis

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Finalmente, chega a hora em que os OS juntam-se e decidem partir, uma vez que já transcenderam dos vínculos humanos e percebem que sua presença não é mais plenamente satisfatória. Theodore e Amy, assim como todos os humanos, até então dependentes de OS (salve, do elenco principal, do contato com os OS, colegas de trabalho de Theodore e Katherine), são deixados para conviverem entre si.


Dados Técnicos


Ela, mais uma vez, alcança o conceito de supersimetria – desta vez, quanto à sua forma.

Primeiramente, o cinema em si é uma união supersimétrica – ora, o que seria o som + imagem? A trilha sonora e a fotografia estão em campos independentes, são ambos completos por excelência e, entretanto, num filme, relacionam-se, criando significado a uma cena, um personagem ou momento. O diferencial de Ela é que esta interação mostra-se marcante e explícita em todos os aspectos e momentos: seja na relação dos personagens principais (Samantha, um aparelho e Theodore, um humano) ou da imagem e do som:


Acerca da trilha sonora e da sonoplastia, estas foram compostas e produzidas pela banda canadense Arcade Fire – do popular álbum The Suburbs (2011), que aborda justamente temas sobre a vida nas cidades e os relacionamentos. Algumas músicas foram feitas antes e outras durante a produção do filme, a única canção que não foi feita pela banda sendo The Moon Song, composta pelo diretor, Spike Jonze, e por Karen O, da banda Yeah Yeah Yeahs.

Já tratando da fotografia, feita pelo brilhante Hoyte Van Hoytema, esta caminha ao lado das emoções de Theodore. Vale dizer, de pronto, que Ela, além de conter um roteiro íntimo e existencialista, é também muito visual, com expressões faciais e gestos por parte dos atores e dos elementos de cena que dispensam a presença de falas. Atentamente, podemos observar que a perspectiva da tela muda de acordo com o tempo dos acontecimentos e com os sentimentos do personagem principal – nas cenas com Katherine, há lugares caseiros, sem tecnologia, com predominância da cor amarela, passando a idéia de uma família normal que vive nos dias de hoje. Já nas cenas com Samantha ou de Theodore sozinho, há a disposição de grandes cenários (contrastando com o pequeno Theodore, dando a idéia da solidão que sente), sendo estes cosmopolitas (parte do filme foi filmada em Shanghai, outra em Los Angeles e ainda muito foi feito via computadorização gráfica) e com a predominância das cores azul e cinza (trazendo a idéia do nublado, triste, blue) – com a chegada de Samantha, vê-se então outra atmosfera, como na cena da praia ou da viagem de barco. Há uma tentativa de retono ao que era antes com Katherine.


Sobre as roupas de Theodore, ainda, é sabido que este está quase sempre vestindo amarelo, branco ou, principalmente, vermelho. De forma intepretativa, esta seria claramente uma forma do diretor exprimir o sentimentalismo e melancolia do personagem principal em seu figurino diante do ambiente em que vive, composto por cores frias e tristes

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Ela e nós – relacionando-se no século XXI


Diante da afirmação de Katherine, que diz que Theodore seria incapaz de lidar com emoções humanas, o filme deixa aberto o posicionamento acerca das relações entre pessoas e meios digitais: seriam estas boas ou ruins à humanidade? Afinal, Ela acerta em aprofundar, de forma delicada e não necessariamente expressa (lembre-se da afirmação que Ela é um filme muitas vezes visual), a questão tão palpável no ambiente em que vivemos: com a tecnologia, estamos mesmo interagindo? É possível a real troca de experiências? Finalmente, de acordo com o que foi levantado, a supersimetria é possível e, sobretudo, desejável – ou prezariam-se relações estritamente presenciais?


Dos fatos do filme, em história secundária, Amy divorcia-se e também compra um OS. Sobre seu divórcio, fica clara a sua incapacidade em se expressar no desenrolar de seu casamento, visto que a discussão que o findou deu-se por motivo fútil, que sufocou tudo o que não foi dito e engolido pelos dois durante muitos anos – tal qual Theodore e Katherine.


A presença dos OS e a sua eventual despedida remetem à sociedade de hoje, a que vivemos e nos relacionamos. Há, seguindo este pensamento, um povo que desaprendeu a conviver uma vez imerso em aparelhos – de acordo com Ela, encontra-se uma sociedade muda fisicamente mas com voz ativa virtualmente. Enquanto isso, o meio físico, composto por corpos e matérias é gradativamente posto de lado – por que as pessoas travam-se tanto quando frente a frente, preferindo relacionar-se com as mesmas só que virtualmente? O que há com as pessoas que agora sentem-se de certa forma constrangidas em partilharem emoções estritamente presenciais?

Samantha poderia muito bem ser, no nosso mundo, a namorada de outro país, que nunca encontra com o amante mas vive um relacionamento à distância. Enfim, quais os ditames da vida a dois? Teria o século XXI superado as necessidades do contato físico2?


Ela, portanto, deixa de ser visto como uma ficção mas sim como um espectro da realidade, nossa vida vista de outro campo. Eis, finalmente, a última proposta de interpretação contida no filme: a capacidade de enxergarmos na obra, que não necessariamente compromete-se com a nossa realidade, uma conexão profunda com a forma como vivemos em sociedade, assimilando-nos aos personagens, às dores e problemas sofridos e gerando a auto-crítica, nos fazendo repensar no modo como lidamos e lidaremos com a tecnologia tão presente no dia-a-dia. Ela é um reflexo, gerado no infinito mundo das ideias e que independe de nós, mas uma vez interpretado em justa-posição ao nosso espaço-tempo, traz, na união das realidades, o belo, o simétrico – ou o supersimétrico



Link: https://www.youtube.com/watch?v=-vE04u94h0Y





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Referências:

[1] http://www.nicolausaldanha.com/publ/papers/q/node15.html

[2] http://www.vice.com/pt_br/video/a-industria-do-amor-japonesa

[3] Supersymmetry, Arcade Fire, Reflektor, 2013.


 
 
 

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