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Da Melancolia à Loucura – The Raven, Edgar Allan Poe

Ao escrever sobre o método de composição de seu poema mais célebre, The Raven, em seu ensaio “The Philosophy of Composition”, Edgar Allan Poe afirma que seu poema tem como base o conceito de “Beleza”, e o tom que melhor ressoa com o conceito de “Beleza” é o tom de “Tristeza”. O tom de melancolia. Disso, pode-se extrair facilmente a conclusão de que seu poema, feito para agradar tanto aos críticos quanto aos leitores casuais de poesia, foi feito deliberadamente para ser o mais triste possível, o que foi conseguido com um poema que trata, em sua base, da morte de uma bela mulher. E é com tons de melancolia que o poema é “pintado”, com tons cinzas.

O poema começa numa fria noite de Dezembro (inverno no hemisfério norte), quando o eu lírico escuta batidas em sua porta. A figura da bela mulher morta logo vem à tona com o luto do eu lírico pela morte de sua amada, Lenore. Embora hesitante, de começo, o eu lírico decide abrir a porta, após chamar por alguém que estivesse do outro lado. Não encontra nada além da escuridão, e seu primeiro impulso é o de gritar o nome da amada, mostrando, nesse ponto, pela primeira vez uma vaga esperança de ver o retorno de sua amada dos mortos. Porém nada ouve, nada além da própria voz ecoando pela escuridão. O protagonista fica sem resposta ao seu apelo. Quando fechou a porta e voltou, escutou um segundo barulho, ainda mais forte, e, ao abri-la novamente, um corvo invadiu sua casa e pousou sobre um busto de Palas. Ao tentar perguntar o nome do corvo, ouviu apenas uma palavra: “Nevermore”, algo como “Nunca mais” em português.

Num primeiro momento, o eu lírico não leva o corvo a sério, e acha, na verdade, a situação engraçada, com um corvo pousado no busto e de nome “Nevermore”. Até o momento em que o eu lírico afirma que o corvo irá deixa-lo em breve, bem como toda a esperança que ele tinha na vida. O corvo ouve e responde: “Nevermore”. O eu lírico então adota uma postura mais séria, ao atribuir a palavra que o corvo insiste em repetir a um “unhappy master whom unmerciful disaster/Followed through and followed faster till his songs one burden bore”. Ou, em tradução para o português, a um mero mestre infeliz que ensinou uma palavra melancólica como “Nevermore”. Ao que ele observou o corvo fixamente até ele soltar a mesma palavra, que começa a lhe incomodar: “Nevermore.”

Então, tomado por um tipo de mistura de masoquismo com inconformismo, o eu lírico passa a questionar o corvo, mesmo sabendo exatamente qual será a palavra que lhe será dita seguidamente. O objeto de suas perguntas é sempre, direta ou indiretamente, sua amada morta, Lenore. Primeiro, ele pede para o corvo que Lenore seja esquecida, que sua amada perdida saia de sua mente. Depois, pergunta para o corvo, que virou, para o eu lírico, uma espécie de entidade sobrenatural, se ele terá salvação. E, por último, pergunta se sua amada Lenore foi para o paraíso depois de falecida. Às três perguntas, o corvo responde indiferente: “Nevermore”. Só resta ao eu lírico, afundado agora em um poço de loucura e horror, aceitar que sua bela e amada Lenore está perdida para sempre, e nunca mais irá voltar.

Primeiramente, nota-se que, durante todo o poema, o eu lírico faz diversas perguntas, mas nenhuma delas tem uma resposta satisfatória, ou mesmo uma resposta de fato. No começo o eu lírico pergunta quem bate à porta, e não obtém resposta alguma. Depois, clama por Lenore, e só tem como resposta a sua própria voz ecoando pelas trevas. E, do momento em que o corvo surge no busto de Palas até o final do poema, a resposta a todas as suas perguntas é sempre a mesma: “Nevermore”. Essa ausência de respostas frustra o eu lírico de tal maneira que seu estado ultrapassa uma simples melancolia, e passa a ser um estado de loucura provocado pela falta de expectativas. Seus anseios não serão respondidos. Suas perguntas não têm resposta. O corvo deixa de ser apenas um aninal, e passa a ser um tipo de lembrete. Um lembrete da causa de seu sofrimento: A morte da bela Lenore. Um lembrete de que ela se foi para sempre.

Por fim, novamente citando o ensaio Philosophy of Composition, Edgar Allan Poe diz que, quando os homens se referem à beleza em si, eles se referem a algo espiritual, à elevação da alma. Por isso causa tamanha tristeza a morte de alguém bela, pois é uma alma de elevação além do natural que vai a outro plano. Um plano ao qual nós, humanos mortais, não temos acesso. Foi por isso que todos os apelos do eu lírico, no poema, ficaram sem resposta. A alma elevada se foi, e restou a ele apenas as lembranças, o luto, e um corvo, no busto de Palas, a lembrar-lhe da dor da perda com a mesma palavra repetida ao infinito: “Nevermore”.

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Fontes:

The Philosophy of Compositon – Texto integral disponível em: http://www.eapoe.org/works/essays/philcomp.htm

The Raven – Poema disponível em: http://www.heise.de/ix/raven/Literature/Lore/TheRaven.html


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