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Uma observação acerca do Niilismo presente em Pulp Fiction - Tempo e Violência



No decorrer dos 154 minutos que integram a obra, o roteiro é, intencionalmente, a principal característica de Pulp Fiction – Tempo de Violência. O humor sarcástico, os diálogos ecléticos e não lineares, fizeram com que narrativa de Roger Avary (roteirista) e Quentin Tarantino (diretor) consagrasse o filme como uma grande obra cinematográfica que viria a influenciar a geração dos anos 90 e servir como referência para dezenas de outros filmes que se seguiriam.

Tarantino, genial cineasta, roteirista e intérprete, leva o telespectador atento ao delírio ao mencionar diversas referências à cultura pop que dão um toque casual ao enredo. Mas o faz, de forma ainda mais genial, ao realizar a conexão de diálogos (que antes pareciam desvinculados) com os fatos viscerais que se desenrolam ao longo da trama.

Dentre os momentos mais significativos e discutidos dentro e fora da ficção está a leitura da passagem bíblica feita por Jules (personagem de Samuel L. Jackson) antes da execução de alguém, a fala foi eleita a quarta mais marcante da história do cinema e, é interessante observar que a referida passagem foi, em sua maioria, reescrita por Samuel L. Jackson e Tarantino.

Suposto Ezequiel 25:17: "O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas desigualdades do egoísmo e da tirania dos homens maus. Bem-aventurado aquele que, em nome da caridade e da boa vontade, pastoreia os fracos pelo vale das trevas, pois ele é verdadeiramente o guardião do seu irmão e o descobridor das crianças perdidas. E derrubarei sobre ti, com grande vingança e furiosa raiva, aqueles que tentam envenenar e destruir meus irmãos. E você saberá que o meu nome é Senhor quando eu derramar minha vingança sobre você."

A fala de Jules é a principal pista para admitir que o filme de Tarantino seja uma alusão à perda de significado da vida e aos valores que nos foram transmitidos há séculos. Ela, que trata principalmente sobre moralidade, definitivamente não tem nenhuma correspondência com o estilo de vida do personagem que só percebe isso quando uma arma é descarregada em sua direção sem atingi-lo gerando uma reflexão sobre a existência de Deus. Sua conclusão só é exposta no final do filme quando Jules pronuncia a passagem e em seguida apresenta três diferentes interpretações arrematando com a afirmação de que a partir daquele momento deixará de ser mal para lutar consigo mesmo e se tornar uma pessoa melhor.

O niilismo, presente em todo o filme, aparece ainda, de forma crucial nas cenas de violência explícita o que, no entanto, não deixa o telespectador enojado, na medida em que elas reproduzem algo cínico, ridículo e tão absurdo que chega a produzir risadas. Dentre os diversos momentos, é impossível não lembrar a cena em que Mia Wallace (Uma Thurman) tem uma overdose e acaba sendo reanimada dentro da casa de um traficante com uma dose de adrenalina diretamente no coração. O desespero dos personagens, as falas e a sua reação após o reanimo de Mia transforma uma cena trágica em cômica.

Essa característica é reafirmada na cena em que Butch Coolidge (Bruce Willis) é perguntado a respeito do significado de seu nome e ele responde: “I’m an American honey. Our names don’t mean shit”. A fala nos leva a interpretar que língua inglesa não significa nada além de si mesma, o que remete a uma falta de utilidade da existência, criando um vazio que, no filme, é preenchido por uma hierarquia repleta de poder e agressividade.

Butch, assim como Jules, sofre uma transformação no decorrer do filme, suas atitudes que muitas vezes apareceram de forma imotivada e sem arrependimento começam a ser tornar justificáveis quando ele volta para salvar Marcellus e essa mudança é representada, principalmente, pela escolha da espada na loja de armas. Sua opção é, definitivamente, uma rejeição ao niilismo, na medida em que, a espada representa a exaltação de uma cultura com valores morais hiper-rígidos.


Assim sendo, Pulp Fiction – Tempo de Violência, gira em torno da transformação desses dois personagens, que percebem sua falta de serventia diante da sociedade. Portanto, além de ser um marco do cinema contemporâneo, a obra fez uma referência à falta de utilidade e propósito da existência e às crenças a valores infundados mas, que apesar disso, os relacionamentos (na concepção de Tarantino - explicitado na relação de Butch com Fabienne), podem obter sentidos verdadeiros e duradouros, mesmo com características transitórias.


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