Max Demian
- Carolina C. Fernandes
- 17 de mai. de 2016
- 3 min de leitura
Escrito por Herman Hesse, romancista alemão, em 1919, Demian perfaz o caminho das sucessivas autolibertações pelas quais todo e qualquer indivíduo deve passar para alcançar a parte mais pura de seu todo, aquilo que se verdadeiramente é: sua quintessência.
Da mesma forma que o autor trespassou durante a sua vida pelas vias do auto-conhecimento (digo “vias” pois não existe uma única estrada em direção a si próprio) através de suas revoltas individualistas contra tudo o que se era imposto seja pela escola, pela igreja ou pela sociedade, o protagonista do livro, Sinclair, segue a mesma rota da autognose. O tema central do livro é o conflito dual entre o “mundo luminoso” (ideal) e o “mundo sombrio” (real) por que todos tem de passar para a sofisticação da própria personalidade com o objetivo de que esta esteja condizente com a verdadeira essência de cada um.
“Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruza daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção.”
Em busca desse caminho que te leva até si, descobre-se que não existe um caminho certo que se deva seguir senão o ditado pela Natureza, até porque cada indivíduo é somente ele e ninguém mais, assim como o caminho traçado por ele não concerne a outrem. E, por isso, cruzar outros caminhos pode nos permitir entendê-los, porém nunca interpretá-los.
O filósofo moderno alemão, Immanuel Kant, faz uso dos termos “fenômeno” e “nôumeno” em sua filosofia transcendentalista, o primeiro ao se referir ao mundo como nós o experimentamos e o seguinte se referindo as “coisas-em-si”, o mundo como existe independentemente de nossas experiências. O “noumeno” seria aquilo capturado pelo pensamento, o que pode apenas ser pensado sem ser conhecido. Conhece-se apenas aquilo que somos, todo o resto são interpretações da realidade que jamais saberemos qual é.
“Assim é que podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se.”

Abraxás
A palavra grega “Abraxás” era gravada em pedras antigas, conhecidas por “Pedras Abraxas” usadas como amuletos por seitas gnósticas que acreditavam no deus Abraxas, um deus que incorporava o Bem e o Mal. De forma que o autor se refere a ele como “vendo nele uma divindade dotada da fundação simbólica de reunir em si o divino e o demoníaco.”
Ou seja, o luminoso e o sombrio, o dual.
“O pássaro luta para sair do ovo. O ovo é o mundo. Aquele que nasce primeiro deve destruir um mundo. O pássaro voa até Deus. O nome do Deus é Abraxas.”
Baseado nisso, Sinclair entende que sua busca deve começar, essencialmente, por dentro. E entendendo que é necessário se contradizer para chegar em uma resposta, passa a se auto-questionar e, dessa forma, compreender melhor quem é.
“‘Quem quiser nascer tem que destruir um mundo’ - eis a mensagem - destruir no sentido de romper com o passado e as traições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão de existir: ser é ousar ser(...)”
O personagem Sinclair não representava, segundo o autor, esta ou aquela pessoa, mas sim de todos os envolvidos na situação de 1919. O livro, escrito nesta data, foi o livro mais chamativo da carreira do escritor por ter “formado uma geração”. E conclui com um incentivo para os que são “marcados” pelo sinal de Caim.
“O caminho da maioria é fácil, o nosso é penoso. Caminhemos.”
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