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Na solidão selvagem

  • Marília Valdívia
  • 4 de ago. de 2015
  • 3 min de leitura

Quem nunca quis sair da própria vida, recomeçar por conta própria e sem amarras, que atire a primeira pedra. Mas esse pode não ser o melhor desejo de todos.


Do ano de 1990 até 1992, Chris McCandless, um jovem de 22 anos, decidiu realizar esse sonho de largar tudo para trás. Largou mãe, pai, irmã, casa, diploma acadêmico, dinheiro e, posteriormente, seu carro. Segundo o relato de John Krakauer em seu livro “Na natureza selvagem”, que conta a história desse garoto baseado em entrevistas com familiares e passagem pelos mesmos pontos que ele, Chris, apesar de algumas insatisfações com seus pais, sempre foi um ótimo menino. Tirava boas notas, era educado e tinha uma vida confortável, mas seu descontentamento com tudo começou a tornar-se cada vez mais nítido, sendo de natureza interna, talvez um vazio, atingindo seu ápice logo após sua formatura na Universidade Emory, quando deu esse passo em direção a uma louca liberdade. Havia um tempo que pensava na superficialidade de tudo aquilo que tinha e de como queria viver uma vida simples, à base do que conseguisse. Decidiu viajar para o Alasca.

Sua jornada foi longa, parando por períodos até que longos. Fez diversos amigos ao longo da viagem, incluindo aqueles para quem trabalhou em algumas cidades, ganhando um pouco de dinheiro aqui e ali, aqueles com quem pegou carona ou aqueles com quem chegou até a morar por um breve período. Todos o conheceram por seu novo nome, seu nome da independência: Alex Supertramp. As descrições daqueles que o conheceram como Alex são bem parecidas com as daqueles que o conheceram ainda como Chris: era um ótimo garoto. O que o diferenciava da sua personalidade antiga era a sede ainda maior pela liberdade utópica que buscava.


Foi essa sede que o fez seguir, deixando até os novos amigos para trás. Tudo indica, através de algumas cartas que enviou e frases que anotou em um pequeno diário, que Chris acreditava que alcançaria plena satisfação e paz apenas quando estivesse totalmente sozinho. Acreditava não precisar de mais ninguém.


Em abril de 1992, finalmente alcançou seu destino. Chegou ao Alasca, na cidade de Fairbanks, totalmente só, onde se instalou dentro do “ônibus mágico”, que é um ônibus abandonado, o qual servia de abrigo para quem passasse por aquele ponto distante, contendo uma cama e mais alguns objetos para o conforto do hóspede (sendo hoje ponto turístico). Triste dizer que Chris veio a falecer, provavelmente uma consequência de um envenenamento por uma planta que mastigou.

Chris e o “ônibus mágico” em Fairbanks, 1992.

Através da recuperação de algumas fotos da câmera fotográfica do jovem é possível afirmar que seu tempo no Alasca foi, de certa forma, agradável, mas que existiu certa dificuldade para arranjar comida, visto que tinha emagrecido demais. É na hora de ler o diário que se enxerga o mais triste: Chris, que tanto buscou aquela viagem, aquela solidão, aquela simplicidade, chegou à conclusão de que não tinha como ser feliz daquele jeito. A vida sem ninguém é difícil, afinal, o ser humano só é o que é por viver em sociedade. Ninguém é alguém quando está totalmente isolado, e foi isso mesmo o que ele percebeu. Tentou retornar à civilização, mas viu seu caminho impedido pelo rio, extremamente cheio na época. Ao retornar ao seu acampamento, por um engano comeu a tal planta que na realidade não era comestível. “Extremamente fraco. Culpa da planta. Semente...” foram suas palavras escritas.


O que muitos que conhecem a história de Chris, seja pelo livro de Krakauer, seja pela adaptação ao cinema de Sean Penn com Emile Hirsch no papel principal, falham em perceber é que a história de Chris é algo que não se deve desejar. O jovem foi elevado ao nível de ídolo por aqueles que se sentem como o próprio se sentia antes de se deparar com dificuldades da natureza humana. Seu destino deveria servir de ensinamento, afinal, custou sua vida.

Comparação entre as fotos de Chris em sua jornada e de Emile Hirsch em “Into the Wild”.

119 dias depois de sua chegada a Fairbanks, Chris McCandless ou Alex Supertramp faleceu, deixando a maior profecia para aqueles que acham que o isolamento pode ser a resposta: não se pode viver sem ninguém, é parte do ser humano relacionar-se com outro. A felicidade só é real quando compartilhada.

“HAPPINESS ONLY REAL WHEN SHARED”.

Christopher McCandless, 1992.

 
 
 

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