top of page

Edward Hopper – as visões da realidade na onipresença do silêncio

“O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais humanos o espetáculo de que participam sem perceber.”

Maurice Merleau-Ponty



Sob a égide de questões puramente humanas e intrínsecas dos conflitos que assolaram multidões, desde a crise de 29 a Segunda Guerra Mundial, Edward Hopper imprimiu em suas obras o retrato gritante da solidão humana e do vazio existencial.


O ‘pintor da solidão’, tal qual era conhecido, Hopper (Nova Iorque, 22 de julho de 1882 — 15 de maio de 1967) foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas dos comportamentos complexos da contemporaneidade.

Hopper, “Excursion into philosophy”


A subjetividade encontrada em sua obra, retratando a solidão urbana (pautada nas grandes cidades de Nova Iorque) e a estagnação do homem moderno, causa no observador um impacto psicológico. Tal peculiaridade evidencia-se dado a forte influência dos estudos psicológicos de Freud [1] e da teoria intuicionista de Bergson[2], que buscavam uma compreensão subjetiva do homem e de seus problemas.


Ao identificarmos os temas das pinturas de Hopper nos deparamos com paisagens urbanas, porém desertas, melancólicas, iluminadas com tons outonais e cenários compostos por personagens que elucidam mistérios narrados pela dramaturgia literária que aborda cada quadro.


Tão evidente é este ponto forte na obra de Edward que já se tornou comum seus quadros tornarem-se Tableau vivant por cineastas que inspiram a fotografia das filmagens na didática “hopperiana” de composição dramatúrgica. O cinema jamais interrompeu a sua fascinação por grandes pintores da história, por exemplo, em 1960, este quadro inspirou Alfred Hitchcock na criação do Hotel Bates do thriller “Psicose”:

E. Hopper,“House by the railroad”


Neste mesmo viés destaca-se também outro longa-metragem, desta vez ainda mais fiel à obra de Edward, em que o cineasta baseia-se livremente sobre 13 pinturas do artista compondo brilhantemente um filme que contou com a ajuda de outros grandes entendedores das artes plásticas para manter rigorosamente a estética – e de forma hipnótica, mesclando a realidade concreta de objetos e os elementos meramente ilustrativos das pinturas compostos por Edward Hopper.

Com o filme “Shirley – Visões da Realidade”, o diretor austríaco Gustav Deutsch decidiu celebrar na tela grande as pinturas do americano recriando através de ambientes parcialmente reais e um elenco formado por poucos componentes.


O filme inspirado nas personagens elucidativas de Hopper apresenta Shirley como protagonista, uma atriz, em meados da crise política envolvida na Segunda Grande Guerra e que se vê encurralada entre seus ideais políticos e suas questões pessoais, circundada pela solidão inerente ao homem moderno.

As suas paisagens e protagonistas são não só representativos de um estilo de vida americano em inícios do século XX, como refletem o cenário atual de um mundo contemporâneo em crise. Talvez Hopper nunca imaginasse que alguns anos após a sua morte, seus quadros estariam tão contextualizados dentro da nossa sociedade.


Analisando o contexto histórico e a poética encontrada em suas ilustrações, deve-se levar em conta o quadro caótico que, por coincidência ou não, é mais atual do que imaginamos, vislumbrando grandes depressões mundiais que assolaram o mundo em 1929 em paralelo com as crises político-sociais que atravessam a realidade atual. Bem como peculiar é o fato de que em quase todas as imagens, é comum que os protagonistas transformem-se em verdadeiras figuras antagônicas,

uma vez que a “luz”, emanada sempre de uma janela aberta, é elemento ordinário nos quadros de Hopper.

E. Hopper, “A woman in the sun”


O convite ao isolamento e a reflexão é claro. Existe apenas uma luz, talvez dizendo que ainda há esperança.


Atualmente a maior parte do legado deixado por Hopper em suas obras está no Whitney Museum of American Art, um museu de arte contemporânea localizado em Nova York, Estados Unidos, com as obras doadas por sua falecida esposa, e também pintora, Josephine Nivison.


[1] Sigmund Freud – Reflexões entre Psicanálise e Arte.

[2]Bergson – “O intuicionismo de Bergson admite a intuição como a capacidade humana de conhecer os dados imediatos da experiência, e rejeita a análise dos conceitos; ele é claramente antimaterialista e antideterminista e se opõe ao discurso que tenta concluir por demonstrações racionais”.

Posts Recentes
Siga
  • Pinterest Long Shadow
  • Google+ Long Shadow
  • RSS Long Shadow
  • Facebook Long Shadow
  • Twitter Long Shadow
  • YouTube Long Shadow
bottom of page