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O Poço e o Pêndulo de Edgar Allan Poe


Para quem não conhece, Edgar Allan Poe foi um dos primeiros escritores a criar contos, poemas de mistério e ficção, considerado como o fundador desse gênero literário. A vida conturbada do escritor foi um dos fatores desencadeantes de inspiração para tantas obras, que até hoje são aclamadas. Poe nasceu em Boston, em 1809 e teve uma vida curta, morrendo aos 40 anos. O motivo de sua morte é desconhecido, mas normalmente atribuído a problemas com álcool e diversas doenças que existiam na época.


As suas histórias serviram de inspiração para diversos autores como Baudelaire e Dostoievski, além de influenciar outros campos de estudo como a cosmologia e a criptografia. Em 1845 publicou o poema The Raven ou O Corvo, foi um sucesso instantâneo, notável por sua musicalidade, métrica exata e pela construção de um ambiente, um clima sobrenatural (uma leitura mais que recomendável).

A coleção de histórias fascinantes que esse autor possui é impressionante, uma delas e que consegue condensar todas as características inerentes ao seu estilo, é o Poço e o Pêndulo.


O Poço e o Pêndulo (The Pit and the Pendulum) é um dos contos mais marcantes escrito por Edgar Allan Poe e foi publicado pela primeira vez em 1842. A atmosfera aflitiva e cheia de suspense, sintetizada em poucas páginas, prende o leitor do começo ao fim, na expectativa do desfecho da história, que com certeza é no mínimo surpreendente.


O enredo gira em torno de um julgamento e a condenação de homem pela Inquisição, que é atirado inconsciente -após o seu julgamento- em um calabouço. Ao recobrar os sentidos, ainda desnorteado, não consegue ter exata noção de sua situação, já que a escuridão assola o lugar de tal forma que nada é possível enxergar. A descrição da aflição que a personagem sentia, se torna ainda mais viva, mais próxima do leitor já que a narrativa é feita em primeira pessoa, como um relato. Como é possível perceber no seguinte trecho:


‘’finalmente, com descontrolado desespero no coração, abri rapidamente os olhos. O negror da noite eterna me engolfava. Lutei para respirar. A intensidade das trevas parecia me oprimir e sufocar. A atmosfera era intoleravelmente opressiva. ’’ (p. 53. Contos de Imaginação e Mistério, 2009).

Ao longo do texto, o prisioneiro tem certeza de que o seu destino estaria traçado e que em momento nenhum se livraria de sua sentença de morte. A medida que vai se acostumando com o ambiente, decide andar pela cela e conhecer sua extensão, nesse momento ele se depara com um de seus piores pesadelos e escapa da morte por pouco. O poço.


‘’ avançara dez ou doze passos dessa maneira quando o que restava da bainha do meu robe enroscou-se entre minhas pernas. Pisei nela e cai violentamente de bruços. Na confusão, preocupando-me com minha queda, não me dei conta imediatamente de uma circunstância alarmante [...] estiquei o braço, e estremeci ao descobrir que cairá bem na beirada de um poço circular, cuja extensão, eu não tinha meios de averiguar no momento. ’’(p. Contos de Imaginação e Mistério, 2009).


A armadilha feita parecia clara, e como que por um golpe da sorte, ele escapou dos inquisidores, que de maneira cruel torturavam aquele homem tanto física como psicologicamente. A calmaria pareceu durar pouco, já que após acordar de um profundo sono, o prisioneiro se viu em mais uma situação que parecia testar seus limites. Deitado, inteiramente amarrado, notou um objeto preso ao teto, uma figura que se assemelhava a um pêndulo, um pêndulo que a cada movimento, a cada vai e vem carregava um minuto a menos de sua vida:


‘’ enquanto eu a fitava diretamente, julguei vê-la se movimentar. Minha imaginação se confirmou. [...]. Eu observava agora- com que horror é desnecessário dizer – que sua extremidade inferior era formulada por um crescente de aço cintilante [...] com uma navalha igualmente maciça e pesada, não havia dúvida da sina para mim preparada. ’’(p. Contos de Imaginação e Mistério, 2009).

Ele acaba notando que estava sendo observado por seus torturadores, já que a velocidade do pêndulo ia aumentando cada vez mais e cada vez mais perto dele. Quando finalmente seus momentos finais estavam próximos e o pêndulo toca seu peito pela primeira vez, quando tudo parecia perdido, surge General Lassale junto com o exército francês, estendendo a mão para o prisioneiro e confirmando o impossível, a Inquisição caíra nas mãos de seus inimigos.


A forma como Poe constrói todo o cenário, não deixa dúvida a respeito de sua genialidade. A forma como o conto é destrinchado, sem antecipar ideias, fatos que vem a acontecer e sem longas indagações da personagem, mantendo o suspense a cada frase faz com que o texto se mostre o tempo todo dinâmico e conciso.


Ele acreditava na unidade de efeito de um conto, ou seja, a ligação entre a reação que o leitor possui ao ler a história e a sua extensão. Ele partia da premissa que a brevidade do conto era o que cativava o leitor, de tal forma que longas conversas, relatos demorados quase não fazem parte de sua obra. De acordo com as suas ideias, no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, independente de qual seja, assim cativar o leitor da mesma forma. Tais características estão claras em não só o poço e pendulo como em diversos outros contos de Poe como, O gato preto, William Wilson etc.


A brevidade das narrativas somada ao terror psicológico, a construção de um ambiente e de personagens igualmente sinistros só fazem dos poemas e contos desse autor uma experiência inusitada para todos aqueles que tem a chance de ler e abstrair tudo o que ele tem a oferecer.

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